Estou aqui de novo...
Sentado em meu quarto, com o caderno aberto, uma garrafa de uísque ao meu lado e somente o luar iluminando o ambiente.
Uma belíssima lua cheia estava exposta no céu. As estrelas a sua volta não conseguiam mais o destaque que outrora tiveram. Elas eram completamente ofuscadas pelo brilho da lua.
Eu estava atrasado com minha crônica. Meu editor ameaçava me demitir a cada dia que se passava e eu não entregava algo para a revista.
Mas de que adiantaria? Se minha atenção não estava nas crônicas... Eu não tinha concentração em nada mais que não fosse ela... Aquela mulher me fez sofrer de uma maneira que nenhuma outra conseguiria.
Não por ter me feito algo... E sim por não ter feito.
Fez-me ama-la sem querer e não correspondeu meu amor... Fez-me decair completamente ao nível humano.
Sempre a via indo a cafeteria onde muitas vezes eu encontrava a inspiração para meu trabalho. Ela parecia gostar de doces. Na verdade, parecer era pouco, ela parecia amar doce. Amava açúcar, pelo que via na quantia que despejava em sua xicara de chá que sempre pedia.
Ela era universitária, cursava letras, eu acho. Não prestei muita atenção nisso.
Ela começou a falar comigo ao me ver escrever. Isso pelo terceiro dia consecutivo que ela ia aquela cafeteria.
Parece que ficou interessada com meu oficio, embora eu tenha lhe dito que muitas vezes, não é o mar de rosas que parece a quem nunca o experimentou. Na verdade nunca é.
Ter sempre alguém lhe enchendo para que faça algo que não pode ser apressado não é algo que consideraria divertido.
Bem, ela me encantou. Sabe-se lá como, fiquei apaixonado por aquele sorriso juvenil dela. Eu não sou velho, mas não sou universitário há alguns anos.
Todos os dias eu ia à cafeteria, não mais para buscar inspiração e sim, pra vê-la.
Como cheguei ao fundo do poço em que estou agora?
Ela me fez crer que eu poderia ser correspondido de alguma maneira. Não diretamente, mas ela me fez isso. Mesmo sempre sendo esquiva quando decidia falar sobre nós.
Eu a ensinei o máximo que poderia ensina-la. Mesmo com minha maneira rude, ela era gentil. Tratava-me com carinho. Coisa que ninguém nunca havia feito... Talvez por isso eu deva ter me apaixonado por ela.
A cada dia que se passava mais eu me apaixonava. E mais ela se tornava esquiva, mas ainda assim necessária em minha vida.
Até aquele fatídico dia...
Ela estava terminando o semestre, e eu já havia conseguido escrever diversas crônicas como nunca havia escrito.
Eu a esperava para nosso encontro diário na cafeteria.
Quando ela chegou, um sorriso apareceu em minha face. Um sorriso que pouco durou. Pois com ela, havia outro cara. Um jovem, universitário provavelmente.
Ela o apresentou a mim, mas eu não lhe dei muita atenção. Ainda mais quando ela me disse que era seu namorado.
Minha mente dizia para mim “faça algo!”, mas o que eu poderia fazer? Eu não presto, mas ainda gostaria de vê-la feliz. Mas gostaria que ela fosse feliz comigo... Mas como não há essa possibilidade...
Mesmo pensando assim, a minha dor fora insuportável. A um nível de dor que jamais senti antes em toda a minha vida.
Bem... Após aquela tarde tortuosa, tranquei-me em meu apartamento. Estou aqui há dias... Não sei mais, não tenho contado nem me importado.
A noite agora era agraciada com uma leve garoa. Representando as lagrimas que nunca caíram. As lagrimas que deveriam ter caído, mas não caíram por não saberem cair.
Eu continuei a beber... Até o momento em que cansei disso. Cansei das coisas, cansei de ter que fingir alegria por ai. Cansei de viver... Eu só queria acabar com a dor...
Uma voz em minha cabeça dizia “Levante! Ande, levante! Faça logo o que tem que fazer!”. Eu a obedeci... E até a minha escrivaninha eu andei, na segunda gaveta estava o que eu estava procurando.
Meu revolver, que já havia me tirado de tantos problemas, iria me salvar novamente.
Eu finalizo essa crônica, para que saibam o que me aconteceu. Para que saibam que a vida é uma droga infinita. Eu gostaria que a entregassem em meu trabalho, eu gostaria que ela fosse publicada.
E é assim que a vida é. Sempre me ferrando... Adeus a todos vocês, miseráveis inúteis...