Vida de estrada

            Só havia a estrada à frente.
            Só a rodovia e a paisagem ao longe, para ser exato.
            Em minha moto, somente eu e ela. Eu simplesmente estava vivendo aquilo que mais ansiara. Estávamos viajando sem rumo, íamos onde queríamos. Fazíamos o que queríamos.
            Passávamos o dia na moto e durante a noite encontrávamos confusão em qualquer bar de estrada que encontrássemos em nosso caminho rumo ao desconhecido.
            Dirigir com ela abraçada a mim.
            Era só isso que eu precisava para viver. Só isso que eu realmente precisava. Só isso que eu queria pra minha vida. Só isso que fazia a minha vida valer a pena.
            Mas como tudo mais na minha vida antes dela. Essa felicidade não durou.
            Eu já deveria ter aprendido que não fui feito pra essa coisa. Sempre que penso que vai dar certo, acaba dando errado.
            E dessa vez, não foi diferente. Ela me abandonou.
           Uma manhã, após uma briga costumeira em qualquer bar, eu acordei apenas com um bilhete em minha jaqueta.
            “Não dá mais pra viver assim, não consigo mais fingir que quero viver com você. Não assim. E sei que você jamais vai mudar, então estou te deixando.”
            Quando dei por mim, percebi que estava sem as chaves da moto. Ela me roubou.
            Foi embora e me deixou aqui.
            Agora estou eu aqui, vivendo no mesmo bar onde ela me deixou. Dormindo na mesa de sinuca e bebendo sem me importar com o que acontecerá daqui pra frente.
            Sei que ela já deve estar bem longe daqui.
            Assim, prometi a mim mesmo que desse bar nunca mais sairia.
            E assim, espero o dia em que a dona morte venha me buscar, pois estarei pronto para ela. E provavelmente, levarei metade do bar comigo... E isso tudo por culpa dela.