Quando eu partir...

1 comentários




            Estava voltando para casa quando comecei a pensar sobre isso.
            Eu sempre penso em como quero viver, o que quero fazer... Mas quase nunca paro para pensar em como quero morrer. Ou como me imagino quando estiver morrendo.
            Eu acho que acabaria mesmo morrendo sozinho. Não por viver sozinho, ou por ser um miserável amargurado como sou. Mas simplesmente pelo fato de que eu não consigo não me imaginar assim.
            Eu sempre disse que iria querer morrer sobre alguma forma de escrita, com uma xicara de café ao meu lado e uns biscoitos do outro. Em suma, morreria sob minha mesa.
            Não dá pra me imaginar tendo uma morte de outro tipo se não essa.
            Sou o tipo de pessoa que não se imagina tendo uma família. Tendo filhos pra criar. Ou tendo esposa.
            Não dá pra me imaginar tendo uma vidinha normal de pessoas normais... Ou eu simplesmente sou um filho-da-mãe que não consegue se imaginar sendo ordinário? Sim, ordinário só pra não dizer “comum”.
            Antes que me arremessem pedras, ordinário apenas quer dizer comum ou trivial. Pelo menos nesse caso não quer dizer nada sobre vulgaridade.
            Tenho medo.
            Medo de ser uma realidade minha. Morrer sozinho. Tenho medo e espero por isso. Não sei dizer, talvez eu realmente queira que isso aconteça assim. Parece um final digno para mim. Eu não iria querer morrer de outra maneira.
            Não iria querer partir de outra forma.
            Mas outra coisa, além disso, me perturba. O famoso, “descansar em paz”. Será que eu descansarei em paz?
            Será que meus olhos se fecharão quando eu partir dessa para uma... Não sei dizer se vai ser uma melhor. Mas será que eles irão se fechar quando eu partir?
            Sempre ouvi dizer que pessoas que morrem de olhos abertos, jamais descansam em paz.
            Isso me assusta um pouco. O descanso eterno será um tormento eterno? Por que se for, para que então que eu vou morrer? Se for pra morrer e não descansar, prefiro estar vivo.
            Viver a vida e não a morte. É isso que deve ser feito.
            As pontas da vida não deveriam importar tanto, somente a vida em si.
            Estou vivendo não estou? Estou tendo bons e maus momentos. Cada momento que já vivi foi necessário para construir quem eu sou. Cada momento que eu estou para viver vai ser necessário para me aperfeiçoar e fazer com que eu melhore onde deva melhorar... Fazer com que eu largue o que deva largar... Fazer o que tenha que fazer...
            É disso que a vida é feita. De momentos.
            Não estou dizendo que não devem ser feitos planos para a vida.
            Estou apenas dizendo que os momentos devem ser aproveitados, tanto os maus quanto os bons. Por que sem eles, qual seria a graça da vida?
            Vida fácil? Para que eu iria querer algo assim? Não rende crônica! E é disso que eu vivo!
            Minhas crônicas. Elas são criadas a partir dos momentos em que vivo. Cada uma de um momento em particular. Cada coisa é o que é. Cada momento foi vivido. Foi superado, ou não.
            Se eu pudesse mudar algo que já me aconteceu, seria o fato de meu café ter acabado ontem... Não mudaria mais nada. Gosto da minha vida. Mesmo sendo uma droga.

            Então é isso, acho que quando eu partir estará tudo bem, pelo menos para mim. Posso não descansar em paz, mas se eu voltar como fantasma ou coisa do tipo... Bem, tenho pena de quem eu quiser atormentar.
            Tudo bem, sem brincadeira de fantasmas e essas bobagens.
            Eu posso não descansar em paz, mas que eu vivi uma boa vida... Ah! Isso eu vivi!
            Ainda vivo! Não estou morrendo.
            Na verdade estou! Todos estão! A cada segundo que passa, estamos mais próximos da morte!
            Mas o que eu quis dizer, é que não irei morrer nesse instante. Não vão se livrar de mim tão fácil.

            Pelo menos por enquanto...

Nada mais importa... Ou quase nada.

1 comentários




                Eu havia acabado de chegar quando li aquilo.
                Havia passado o dia inteiro na loja, meu refugio. Um lugar onde me sinto a vontade e não estou sozinho. Finalmente encontrei um lugar assim.
                Praticamente todos que vão lá gostam das coisas que gosto. Jogos e quadrinhos.
                As coisas estavam muito paradas. Eu ansiava por algo novo. Algo que valesse a pena de se escrever... Eu não sabia o que esperar, só esperava...
                Agora, não sei se valeu a pena. Mas pelo menos, tenho algo a escrever. Agradeço a você, garota do capitulo anterior a Isabela. Você me machucou legal agora, mesmo eu já tendo te fechado na minha vida há muito tempo.
                E nem foi por eu ter perdido alguém que eu amei, foi por eu ter perdido uma amiga. Uma boa amiga. É só por isso que estou triste.
                Eu estava bem. Satisfeito em tê-la apenas como amiga. Mas parece que ela era uma tremenda paranoica. Mesmo eu dizendo que estava tranquilo, acho que ela ainda achava que eu sentia algo mais... Egocêntrica.
                Eu também sou, mas sei onde estão os meus limites!
                Com raiva? Claro que estou. Não seria eu mesmo se não estivesse.
               
                Está amanhecendo. Eu precisava de um tempo antes de conseguir escrever. Passei a noite em claro. Tentando dormir para descansar a mente, mas foram tentativas em vão. Não consegui nem ao menos cochilar.
                Muitas vezes enquanto escrevo isso, eu paro. Paro para pensar, reler o que já escrevi e muitas vezes para apagar as coisas e reescrevê-las. A essa altura já devem ser oito horas. Não tenho certeza, meu relógio não está marcando o horário certo.
               
                Eu parei de escrever por alguns minutos, precisava preparar meu café e comer algo. Agora, com uma xicara de café ao meu lado e uns biscoitos do outro, estou com as palavras organizadas em minha mente. Ou não.
                Eu fico lendo e relendo aquele e-mail direto. Desde que chegou. Não consigo parar com isso. Quero, tento... Mas fracasso. Talvez eu não queira parar de ler. Não sei.
                Ela pediu que eu não a odiasse. Um pedido ao qual será o ultimo que atenderei a ela. Não a odeio. Mas não gosto dela. Nem um pouco.
                Apenas mais uma na multidão. Isso que ela se tornou pra mim.

                Eu sou o cão. Nas palavras dela, o “corpo-presente”. E ela a gata, a “observadora”. Isso nunca daria certo mesmo. Foi uma surpresa, e ao mesmo tempo estranho, termos sido amigos por tanto tempo.
                Como me disseram certa vez, eu sou sessenta. Ela varia de cinco a cinquenta.
                E agora, estou sem saber o que fazer... O que faço se o abraço que me reconfortava quando estava triste é exatamente o da pessoa com quem eu mais estou triste e decepcionado? Estou perdido. Sem rumo, sem nada... Só vazio... Outra vez.
                Ela me trouxe a vida novamente para que? Qual fora a razão?!
                Agora... Eu nunca vou saber. E acho que nem importa. Vai ser uma das poucas coisas que vão ficar sem resposta para mim. Não estou nem ai.
                “Foda-se, eu agora tenho uma bengala!” é o meu pensamento para tudo isso agora. Não faz sentido, mas é divertido dizer. Com bengala agora eu posso andar mais. Não força tanto a perna. Então dói menos. Ou faz parecer que não dói tanto.
               
                Só queria duas coisas agora.
                Uma é o prêmio da mega-sena. Por quê? Por que assim eu posso viver como eu quiser e fazer o que eu quiser. Já faço e vivo. Mas com dinheiro ficaria mais fácil.
                A outra é encontrar alguém que não se mostrasse uma completa babaca no fim... Mas será que isso é o fim? Eu duvido, e olha que quem está me contradizendo sou eu! Então algo ainda está por vir. Eu posso sentir no ar!
                Espero que não seja algo ruim. De coisas ruins estou enfiado até as orelhas.

                Por que viver tem que ser tão difícil?
                Eu mesmo me respondo. “Por que se fosse fácil seria miojo e não a vida”.
                Droga de auto resposta...

                Eu não sei.
                É só isso que me vem à mente agora. Não sei o que fazer, não sei o que pensar... Só sei o que não preciso. Não preciso ficar sozinho. Não mais.
                Tenho amigos, isso é o que me importa.
                Alias, foi graças a ela. Agradeço a ela por isso. E talvez seja justamente isso que me impeça de odiá-la. Eu queria muito. Muito mesmo. Mas é contra meus princípios.
                Malditos princípios... Sou assim, ao mesmo tempo em que me amo, eu me odeio. Sou um cão, sou um lobo, sou uma criança, sou um idoso. Sou tudo e não sou nada.
                Pensador e realizador.
                É assim que vivo. Em conflito comigo mesmo. Sempre e pra sempre.
                De resto, nada mais importa.

                Estou encerrando por agora.
                Ouvindo Metallica, Nothing else matters, o que parece se encaixar no momento.
                Estarei aqui esperando um amigo aparecer antes de ir para a loja.
                Então... Enviarei esse texto ao editor. Se ele gostar, será publicado. Se não... Foda-se, eu tenho uma bengala!