O que passou, passou...

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                Esta amanhecendo. Meu relógio marca 05h57min.
                Eu deveria estar dormindo agora, tenho que sair às 13h, mas quem disse que quero ou estou com sono?
                Acabei de voltar de uma reunião na casa de um amigo. Estávamos jogando. Foi engraçado, muito mesmo.
                Muitas risadas, piadas, brincadeiras foram feitas nessa noite e madrugada.
                Em certos momentos, achei que minhas costelas iriam quebrar de tanto que ria. Nem minha perna me incomodava mais, ela quase não existia pra mim.
                Algumas horas antes de irmos jogar, estávamos com o restante de nossos amigos. Não todos, mas uma grande parte estava conosco. Foi uma noite relativamente boa. Com seus altos e baixos.
                Consegui, após quase um mês, falar com um amigo, melhor dizendo irmão, sobre o que me afligia antes. Agora finalmente tenho capacidade de falar. Finalmente consigo falar sem me machucar. Sem sentir tanta dor.
                Ela.
                Um dos meus maiores enganos. Não sou do tipo que erra, mas quando erra... A coisa é feia.
                Não digo que sou perfeito. Não erro por que muitas vezes nem mesmo tento algo. Embora eu tente na maioria das vezes...
                Sou como o “palhaço”. Sempre a favor do erro, mas, ao mesmo tempo, tento evitar o mesmo ao máximo.
                Bem, não vou me desviar de meu ponto inicial... Talvez um pouco, mas não agora.
                A alegria que me fora proporcionada por ela, foi tão proporcional quanto à tristeza que ela me fez sentir recentemente.
                Sou do tipo que é difícil gostar de alguém. E sou do tipo que não gosta de muita gente... Mas também sou do tipo que é realmente muito difícil odiar alguém.
                Sei que não sou o melhor exemplo de pessoa que alguém poderia ver ou querer ter como exemplo. Mas ao menos sei até onde posso ir. Sei até onde minhas ações podem ir sem ferrar tudo e a todos.
                Ela não. Atualmente a acho uma pessoa horrível. Uma mentirosa que quebra promessas e usa as pessoas somente a seu favor sem se importar com as mesmas...
                Eu sei que sou um caso perdido. Mas como eu dizia a meu antigo mentor no ramo das crônicas. “Um caso perdido maneiro”.
                Nos últimos dias, eu me sentia vazio. Sozinho.
                Ainda me sinto. Mas estou melhorando. Agora que estou escrevendo, sinto que estou melhorando muito mais rápido do que antes.
               
                Voltando a ela.
                Ela fora a causa de uma felicidade muito grande. Tão grande, que eu não me continha em mim. Mês passado eu me sentia bem apenas na menção do nome dela. Mas hoje, ouvir o nome dela... Bem, só me dá vontade de arrancar minhas próprias tripas e as de quem a mencionou... Não necessariamente nessa ordem.
                Estou escrevendo enquanto escuto uma musica que não escuto muito. Uma musica que se adequa a mim agora. “Só os loucos sabem”.
                Eu já havia decido não me abater pelo que aconteceu... Mas não dá pra esquecer o fato de ter sido usado. E descartado quando não era mais necessário...
                Mas como diz na letra. Agora eu sei o que fazer, vou recomeçar. Tudo.
                O que aconteceu, aconteceu. Eu não posso mudar. Adoraria. Daria minha perna boa pra mudar! Mas não posso. Então... Foda-se.
                Não a vejo há tempos, desde o acontecido. Minhas ultimas memorias sobre ela não existem mais, não completas ao menos, mas lembro de pequenos momentos... E parece que deles, lembro como se talvez não pudesse esquecer. Talvez minha mente queira me jogar cada instante cada vez mais para baixo, como se eu não quisesse me ajudar. Um deles fora o fato de eu estar na frente dela, ela estar me olhando e, ainda assim, passar reto e depois que eu a chamei ela dizer que não havia me visto.

                Usar-me apenas pra tentar conseguir o que queria...
                Desejei muito manda-la ao inferno... Não a mandei apenas por uma brincadeira... Inferno. Esse é o nome do meu quarto. Somente por esse fato não a mandei para tal lugar.
                Eu sai mancando o mais rápido que minha perna não permitiria. Andei o indevido, me machuquei. Muito.
                A dor física tentava consolidar-se com a emocional. Era quase tão forte quanto ela. Mas não doía o suficiente para me fazer apagar...

                As duas linhas acima resumiram meu mês. E as que virão, resumirão meu agora.
                Eu te odeio. Muito.
                Quase tanto quanto a mim mesmo por ter me deixado cair em sua rede babaca.
                Mas em nome de todos aqueles que se importam comigo, em nome daquele que se importou e não está mais comigo, em meu próprio nome, eu te digo aqui e agora...
                Por mais que eu te odeie, por mais que você tenha me dado todos os motivos necessários, e mais alguns desnecessários, eu não consigo lhe desejar mal. Odeio você, mas ainda assim desejo que fique bem.
                Quem sabe algum dia você se torne alguém que valha a pena. Alguém que valha a pena para alguém.
                Para mim nunca será. Não mais.
                Para mim, você não é digna nem mesmo de pena.
                Você não é mais motivo para que eu fique mal. É apenas alguém com quem fiquei. Alguém que veio e se foi. Alguém a quem eu não daria nem mesmo um alô se encontrasse na rua.
                Eu não presto. Sei disso.
                Então isso pra você deve ser pior do que muita coisa, já que não vale nem mesmo a minha raiva.

                Termino de reler minhas linhas... Parece que não sou lá tão ruim quanto penso que sou... Talvez ainda haja algo que dê pra salvar em mim... Mas não importa, não agora.
                Termino aqui, agora ao som de “Fly away from here”, tomando um pouco de refrigerante e talvez começando alguma outra crônica. Isso deixaria meu editor animado...
                Não contei nem a metade do que aconteceu, do que eu queria ou do que deveria... Mas não interessa, afinal de contas, o que passou, passou. E só o tempo irá ajudar agora...

Cinema

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            Estava quente. Muito quente.
            O ar estava muito seco, eu não respirava corretamente. Não conseguia.
            Eu estava entediado, havia descido da sala para o pátio do colégio. Educação física, não é uma das minhas matérias favoritas... Afinal de contas nem andar direito posso!
            Sentei-me a uma das poucas sombras que ali havia.
            Enquanto falava com um dos poucos amigos que tinha naquele lugar, falávamos sobre musica e filmes, tentava escrever... Bom, parece que estou conseguindo.
            Segunda-feira. Provavelmente o pior dia da semana. Não apenas por ser o começo da semana, mas também não tenho aonde ir à noite, nem tenho como encontrar meus amigos.
            Pela conversa que estava tendo, cheguei à conclusão de que gostaria de ir ao cinema. Lugar aonde pouco vou. Mas qual é a graça de ver um filme sem ter alguém para te acompanhar e após o mesmo, comentá-lo?
            Eu precisava de companhia... Mas quem estaria livre numa segunda-feira?

            Após muitas ligações, onde poucas foram atendidas, descobri que as segundas-feiras eu volto a ser o lobo solitário que era antes de conhecer meus amigos.
            Não consegui nenhuma companhia... Mas eu iria de qualquer maneira. Precisava de algo para terminar a crônica. Para torna-la interessante.

            O restante da aula passou bem lentamente. Eu queria sair dali. O mais depressa possível. Não tinha companhia, mas fazia muito tempo que eu não saia para me divertir sozinho... E eu sei muito bem que eu ando precisando me divertir. E isso me gerou uma ansiedade sem motivo.
            Quando finalmente pude sair daquele lugar, fui da maneira mais rápida que minha perna permitiria até o ponto de ônibus.
            A viagem de ônibus até a praça próxima a minha casa, fora como sempre. Completamente tediosa. Comigo quase dormindo usando meus óculos escuros, já escurecendo, com a cabeça encostada na janela.
            Antes de ir ao cinema, fui até minha casa. Melhor dizendo, até o quarto que alugo. Precisava de uma camiseta que não fosse a do uniforme estadual. Odeio esse “azulão”...
            Joguei minha mochila sobre a mesa, despi o uniforme e peguei uma camiseta qualquer que estava de fácil alcance. Era minha camiseta favorita, com estampa dos Ramones.
            Não me demorei muito em meu quarto, tentei mais uma vez encontrar alguém que pudesse me acompanhar. Como não encontrei, fui para o cinema.
            Lá chegando, notei que não havia uma fila muito grande. Na verdade, eu não chamaria aquilo de fila!
            Eu decidi por ver um desenho. Afinal de contas, o filme que eu queria ver eu sabia que era bom e, bons filmes devem ser vistos com alguém para que depois de vê-los, sair-se discutindo o mesmo.
            Eu sabia que segunda-feira era um dia de pouco movimento... Mas eu esperava que houvesse mais alguém naquela sessão. Mas não! Havia apenas eu lá!
            Nem mesmo o projetista estava lá. Ele apenas ligara a maquina e sumira!
            Provavelmente ele já não aguentava mais aquele desenho. Foi à conclusão que cheguei.
            Como estava sozinho, eu pude escolher o melhor lugar para melhor aproveitar o “filme”. E enquanto o mesmo estava passando, eu não tinha receio algum de comentar ou rir em voz alta.
            Até que não era tão ruim. Era bastante engraçado. Cheio de piadas inteligentes e referencias a outros filmes.

            Com o fim do filme parei em uma barraquinha de lanches, comer um cachorro-quente. Enquanto esperava, observava o pouco movimento das ruas. Os limpadores-de-rua exercendo suas funções; pessoas esperando os ônibus para irem, talvez, a suas casas; os carros passando...
            Ia a minha casa para poder comer meu lanche. Não, eu não como em publico. Não gosto de pessoas me encarando enquanto como... Acho estranho.
            Lá chegando, pego meu notebook para terminar a crônica. Com metade do cachorro-quente na boca, um copo de limonada ao meu lado e mais uma crônica sendo encaminhada... É assim que encerro o meu dia. Não foi um dia interessante, nem admirável... Mas foi meu o dia. Foi a minha segunda-feira. E ela não foi tão ruim quanto às outras segundas-feiras.

Insônia

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            Madrugada.
            Estava sentado em minha cama pensando nas coisas. Estava a horas “bolando” sem conseguir dormir.
            Após pegar meu notebook, comecei a escrever isto.
            Maus hábitos de um cronista. Tudo que tem me acontecido deveria ter rendido alguns textos... Mas só agora consigo escrever. Só agora, após muito pensar, consigo me expressar...
            Por onde começar?
            Talvez pelo maldito começo. Mas quem diz onde começam as coisas? Quem determina onde os fatos acontecem?
            Começarei por onde eu determino que seja o começo.
            O amor, esse é uma droga... Faz você se iludir fazendo parecer que está feliz. Mas ninguém nunca percebe que as pessoas são egoístas. As pessoas, por mais que digam o contrario, importam-se mais consigo mesmas do que com os outros. Não passam de robôs medíocres que tentam não morrer sozinhas em suas tristezas.
             Eu fui um tolo. Fui feito de idiota. Fui um grande idiota. Por ter acreditado na loba em pele de ovelha. E por mais que eu tenha me avisado, deixei-me levar.
            Como um rato que após muito apenas pressionar o botão do prazer, esquecendo-se do botão de alimentos.
            Não falarei muito disso para quem não conheço... E pra quem provavelmente não liga. Apenas direi o que aconteceu, sem os detalhes detestáveis.
            Após apaixonar-me, fui iludido por minha mente. Acreditava que ela também me amasse. Ou era isso que eu esperava... Agora, sei que ela não só não me amava como também me usou. Usou-me para conseguir aquilo que queria.
            Sinto-me péssimo. Meus amigos percebem isso, mas não falam. Eles me conhecem. Sabem que eu preciso de um tempo para ficar sozinho antes de poder falar.
            Eles mesmos têm problemas maiores. Parece que os problemas dessa vez vieram de vez. Bem dizem que a desgraça nunca vem sozinha... Não pedi a eles permissão para falar dos problemas deles aqui, então nada será dito sobre.
            Voltando a minha pessoa. Afinal de contas, sou um grande filho-da-mãe.
           
            Perdi alguns segundos do meu tempo olhando pela janela. Já está amanhecendo. Outra noite sem dormir. Grande coisa...
            Os dias que se passaram desde que percebi o que acontecia, eu lutava ao máximo comigo mesmo para não bater a cabeça com força na parede ou me dopar pra não acordar por um período longo de tempo.
            Só não o fiz porque sabia que preocuparia as pessoas que comigo se importam. E muito provavelmente me fariam voltar ao coma induzido depois de eu me recuperar.
            Mas a dor continua. Não consigo parar de senti-la.
            Não a dor de perder alguém que eu, supostamente, amava. Mas a dor de ter sido usado. A dor de ter confiado em alguém que não deveria.

            Ouço sons estranhos. Passos.
            Batidas em minha porta. Decido não responder enquanto a pessoa não se identificar.
            “Luigi! Sou eu!”
            Fora a voz de um amigo. O que ele fazia aqui em casa às... Eu não sabia que horas eram. Surpreendo-me ao olhar para o relógio e descobrir que já eram oito horas.
            Novamente perdi a noção do tempo enquanto escrevia. Fazia muito tempo que isso não acontecia. Talvez essa crônica-desabafo seja melhor do que parece ser...
            Saio de minha cama, tentando reestabelecer o equilíbrio. Com certa dificuldade, manco até minha porta e a abro.
            “Trouxe pães.” Ele disse exibindo o pacote que havia em sua mão. “Posso entrar?”
            A pergunta era mera formalidade. Ele já estava entrando.
            Depositara em minha mesa o pacote e sentara-se em uma das cadeiras.
            “Quer café?” Ofereço. É a única coisa que tenho costume de tomar pela manhã. Isso é, quando acordo de manhã. Em geral estou deitado até as onze horas, horário em que me arrumo para sair de casa.
            “Aceito sim.” Ele sorria. “O que faz acordado a esse horário? Normalmente teria me enxotado ou diria para que eu ficasse a vontade por que voltaria a dormir...”.
            É ele me conhecia bem.
            “Eu não dormi ainda.” Respondo-o
            “Dá pra ver pelas olheiras. Voltou a escrever pelo menos?”
            Eu deixei escapar uma risada. Talvez sarcástica ou falsa, não sei dizer.
            “Sou tão previsível assim? Só por que não durmo quer dizer que voltei a escrever?”
            “Você não me respondeu.”
            Droga! Eu não consigo mais nem enrolar um amigo. Estou mesmo ficando ruim.
            “Estou quase terminando uma crônica agora.”
            “E como está indo?”
            Apenas sacudi meus ombros.
            “Entendo...”

            Talvez seja assim que eu deva terminar a crônica.
            Observando em segundo plano meu amigo passar manteiga em um pão, ouvindo o som da cafeteira e ouvindo Led Zeppelin.
            Ao terminar essas palavras, envio a crônica ao meu redator e sirvo-me de uma xicara de café e de uma metade de um pão... Começando uma conversa verdadeiramente decente com meu amigo.
            Talvez agora eu seja capaz de falar com ele e os outros sobre o que está acontecendo mais facilmente. Talvez eu consiga, talvez não... Quem sabe?