Insônia




            Madrugada.
            Estava sentado em minha cama pensando nas coisas. Estava a horas “bolando” sem conseguir dormir.
            Após pegar meu notebook, comecei a escrever isto.
            Maus hábitos de um cronista. Tudo que tem me acontecido deveria ter rendido alguns textos... Mas só agora consigo escrever. Só agora, após muito pensar, consigo me expressar...
            Por onde começar?
            Talvez pelo maldito começo. Mas quem diz onde começam as coisas? Quem determina onde os fatos acontecem?
            Começarei por onde eu determino que seja o começo.
            O amor, esse é uma droga... Faz você se iludir fazendo parecer que está feliz. Mas ninguém nunca percebe que as pessoas são egoístas. As pessoas, por mais que digam o contrario, importam-se mais consigo mesmas do que com os outros. Não passam de robôs medíocres que tentam não morrer sozinhas em suas tristezas.
             Eu fui um tolo. Fui feito de idiota. Fui um grande idiota. Por ter acreditado na loba em pele de ovelha. E por mais que eu tenha me avisado, deixei-me levar.
            Como um rato que após muito apenas pressionar o botão do prazer, esquecendo-se do botão de alimentos.
            Não falarei muito disso para quem não conheço... E pra quem provavelmente não liga. Apenas direi o que aconteceu, sem os detalhes detestáveis.
            Após apaixonar-me, fui iludido por minha mente. Acreditava que ela também me amasse. Ou era isso que eu esperava... Agora, sei que ela não só não me amava como também me usou. Usou-me para conseguir aquilo que queria.
            Sinto-me péssimo. Meus amigos percebem isso, mas não falam. Eles me conhecem. Sabem que eu preciso de um tempo para ficar sozinho antes de poder falar.
            Eles mesmos têm problemas maiores. Parece que os problemas dessa vez vieram de vez. Bem dizem que a desgraça nunca vem sozinha... Não pedi a eles permissão para falar dos problemas deles aqui, então nada será dito sobre.
            Voltando a minha pessoa. Afinal de contas, sou um grande filho-da-mãe.
           
            Perdi alguns segundos do meu tempo olhando pela janela. Já está amanhecendo. Outra noite sem dormir. Grande coisa...
            Os dias que se passaram desde que percebi o que acontecia, eu lutava ao máximo comigo mesmo para não bater a cabeça com força na parede ou me dopar pra não acordar por um período longo de tempo.
            Só não o fiz porque sabia que preocuparia as pessoas que comigo se importam. E muito provavelmente me fariam voltar ao coma induzido depois de eu me recuperar.
            Mas a dor continua. Não consigo parar de senti-la.
            Não a dor de perder alguém que eu, supostamente, amava. Mas a dor de ter sido usado. A dor de ter confiado em alguém que não deveria.

            Ouço sons estranhos. Passos.
            Batidas em minha porta. Decido não responder enquanto a pessoa não se identificar.
            “Luigi! Sou eu!”
            Fora a voz de um amigo. O que ele fazia aqui em casa às... Eu não sabia que horas eram. Surpreendo-me ao olhar para o relógio e descobrir que já eram oito horas.
            Novamente perdi a noção do tempo enquanto escrevia. Fazia muito tempo que isso não acontecia. Talvez essa crônica-desabafo seja melhor do que parece ser...
            Saio de minha cama, tentando reestabelecer o equilíbrio. Com certa dificuldade, manco até minha porta e a abro.
            “Trouxe pães.” Ele disse exibindo o pacote que havia em sua mão. “Posso entrar?”
            A pergunta era mera formalidade. Ele já estava entrando.
            Depositara em minha mesa o pacote e sentara-se em uma das cadeiras.
            “Quer café?” Ofereço. É a única coisa que tenho costume de tomar pela manhã. Isso é, quando acordo de manhã. Em geral estou deitado até as onze horas, horário em que me arrumo para sair de casa.
            “Aceito sim.” Ele sorria. “O que faz acordado a esse horário? Normalmente teria me enxotado ou diria para que eu ficasse a vontade por que voltaria a dormir...”.
            É ele me conhecia bem.
            “Eu não dormi ainda.” Respondo-o
            “Dá pra ver pelas olheiras. Voltou a escrever pelo menos?”
            Eu deixei escapar uma risada. Talvez sarcástica ou falsa, não sei dizer.
            “Sou tão previsível assim? Só por que não durmo quer dizer que voltei a escrever?”
            “Você não me respondeu.”
            Droga! Eu não consigo mais nem enrolar um amigo. Estou mesmo ficando ruim.
            “Estou quase terminando uma crônica agora.”
            “E como está indo?”
            Apenas sacudi meus ombros.
            “Entendo...”

            Talvez seja assim que eu deva terminar a crônica.
            Observando em segundo plano meu amigo passar manteiga em um pão, ouvindo o som da cafeteira e ouvindo Led Zeppelin.
            Ao terminar essas palavras, envio a crônica ao meu redator e sirvo-me de uma xicara de café e de uma metade de um pão... Começando uma conversa verdadeiramente decente com meu amigo.
            Talvez agora eu seja capaz de falar com ele e os outros sobre o que está acontecendo mais facilmente. Talvez eu consiga, talvez não... Quem sabe?